sábado, 8 de novembro de 2008

Resenha de “Educação popular e Educação de adultos” por Vanilda Pereira Paiva, 4º ed.






Resenha de “Educação popular e Educação de adultos” por Vanilda Pereira Paiva, 4º ed.
São Paulo: Edições Loyola -. 1987. 368p

O livro da autora divide-se em três partes: a primeira chamada de introdução discorre sobre a questão do método, as hipóteses e as categorias trabalhadas em sua pesquisa. Explica os altos índices do analfabetismo, a origem do preconceito contra o analfabeto.
Em seguida chama a atenção sobre as dificuldades da “cientificidade” dos trabalhos que abordam questões relativas ao fenômeno educativo apresenta versões modernas do empirismo com orientações racionalistas que apontam dificuldades à possibilidade de uma “ciência da educação”
É ressaltado que os sistemas e os movimentos educativos em geral, embora influam sobre a sociedade a que servem, refletem basicamente as condições dessa sociedade. Esta estreita “simbiose” do movimento educativo com a sociedade como um todo coloca o problema crucial dos limites e das possibilidades da educação como instrumento de conservação e de mudança social.
Analisa sobre as perspectivas interna e externa, onde a perspectiva interna inclui os aspectos metodológicos, administrativos e técnicos da educação enquanto processo de aprendizagem e a perspectiva externa privilegia a função dos movimentos educativos dentro da sociedade.
Movimentos em favor da educação popular são justificados com o “entusiasmo pela educação”, essa valorização deve-se ao capitalismo que permite percebê-la como instrumento de ascensão social. A revolução industrial na Europa que passa a exigir o domínio da leitura e da escrita e essa perspectiva é marcada por preocupações quantitativas em relação à difusão do ensino. Apresenta o “otimismo pedagógico”, onde a atenção é dirigida para qualidade dos sistemas de ensino.
A autora apresenta a categoria “realismo em educação”, para abordar os problemas educacionais, onde o tratamento das questões educativas é feito sem perder de vista a importância da qualidade de ensino, mas levando também em consideração o papel desempenhado do sistema educativo na sociedade como um todo.
Na segunda parte do livro é feito um retrospecto sobre a Educação Popular brasileira descreve a evolução identifica as raízes de alguns problemas educativos ainda existente.
Vista o período colonial onde a educação popular é praticamente inexistente, com exceção da ação dos religiosos que iniciaram as atividades educativas utilizando-a como instrumento de consolidação dos padrões culturais europeus e da religião cristã no Brasil com objetivo de facilitar “domesticar pela fé”.
Contextualiza o período monárquico, que trouxe preocupações com o desenvolvimento do ensino para as elites.
Mostra a preocupação do período da Independência, que amplia a participação de brasileiros nas atividades do Império, ai já incentivado pelas os ares da revolução francesa, apresenta novas preocupações com a educação.
A parcialidade do Ato Adicional que promovia à descentralização do ensino elementar a educação popular estava atrelado às condições econômicas, sociais e políticas de cada província sacrificando o Norte-Nordeste agora já enfraquecido economicamente.
O parecer-projeto um primeiro diagnóstico da realidade educacional brasileira relativa ao ensino elementar e a convocação do congresso de instrução. Destacam-se as idéias no debate sobre educação popular durante os últimos anos do império: difusão do ensino, a sua obrigatoriedade e gratuidade; o auxilio do governo central; os princípios que deveriam nortear a educação do povo; o preparo dos professores primário; a educação da população adulta analfabeta e o ensino profissional.
Com a república modificou-se a composição da sociedade brasileira, mas no terreno da educação popular, o estado de precariedade do sistema elementar de ensino continuou.
A contribuição da primeira guerra mundial para as modificações que acarretou na vida do país configura-se uma nova situação no panorama das discussões dos problemas educacionais brasileiros. Diante da pressão nacionalista desencadeado pela guerra, inicia-se neste período uma intensa campanha contra o analfabetismo. No decorrer dos anos 20, esse “entusiasmo pela educação” foi substituído pelo “otimismo pedagógico”, aparecem os primeiros “profissionais da educação”, introduzindo as idéias da Escola Nova.
Mostra o período de 1930/1945 subdividiu-se em dois momentos, com características inteiramente diversas do ponto de vista político: o da segunda república, caracterizado pelos ideais democrático-liberais e o do Estado Novo, marcado pelo regime de autoridade, antiliberal e antidemocrático. Prevalece em todo o período, duas características o interesse pela educação rural e pelo ensino técnico-profissional, cuja ênfase se explicaria por serem percebidos como o aspecto educacional da estratégia do governo para a solução da “questão social”. Em 1945 regulamenta-se o Fundo Nacional do Ensino Primário (FNEP), a União arca com as despesas relativas às construções escolares e à qualificação do pessoal técnico e os Estados com a manutenção dos sistemas. A rede elementar de ensino começou a crescer, mas que ficou a dever com a qualidade.
A autora aponta a criação da UNESCO como importante incentivo à atenção aos adultos analfabetos aliando às estas pressões externas a evolução do problema interno, provocando uma tomada de decisão por parte de Lourenço Filho para influir no destino de recursos à educação dos Adultos. Ressalta ser um campo educativo que estão em jogo muitos interesses políticos a curto prazo e onde, por isso mesmo, manifesta-se mais claramente o caráter ideológico da educação. Em 1946 a educação de adulto é um problema independente da educação popular.
A terceira parte do livro a autora dedica-se a apresentar com um olhar alternativo a historiografia das mobilizações ocorridas na Educação de Adultos no Brasil. O progresso iniciado por volta de 1870 é um determinante para oferecer escolas noturnas para adultos nas diversas províncias e a partir dos anos 80 multiplicam-se durante os últimos anos de império e início da primeira república. A partir da revolução de 30 encontraremos no país movimentos de Educação de Adultos de alguma relevância e os programas de massa destinados a esta modalidade educativa só começaram a ser desenvolvidos com a redemocratização em 1945.
O Congresso Nacional de Educação de Adultos, em 1947, e o Seminário Interamericano de Educação de Adulto realizado em 1949 são marcos. O Ministério da Educação inicia as atividades da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos, estudando criticamente a experiência da CEAA. A influência deste evento orientou de forma “realista” a Campanha, pois a metodologia tinha como base o desenvolvimento comunitário. Destaca-se a origem a Campanha Nacional de Educação Rural, foi um dos momentos mais importantes de todo movimento em favor do ensino rural.
Paulo Freire, 1958 até 1964 , traz uma nova leitura em matéria de Educação de Adultos reintroduzia a reflexão sobre o social e o cultural nos meios pedagógicos. Paulo Freire defendia uma educação como prática da liberdade, onde o indivíduo abandonando a “ignorância” passa a ser livre e se reconhece construtor de sua historia e riqueza do seu país. Recife contribui de forma efetiva para as mudanças de pensamento pedagógico.
A problemática da educação pernambucana está bem representada pelos movimentos sociais apresentados. A igreja, os intelectuais, todos engajados em uma nova forma de educar para a cidadania, para o reconhecimento de si próprio da real importância de todos no desenvolvimento do país. Quebra a preconceito, a leitura de Paulo Freire sobre o analfabetismo e mostra que a chaga acontece como uma forma de mostrar que a dor também é pedagógica. Interessante é que passados tantas décadas Pernambuco continua contribuindo com essa chaga! Somos no país um dos estados com maior índice respeitável de analfabetos, contribuímos assim, de forma significativa, com o atraso, a corrupção e a violência.
Os métodos pedagógicos eram fundamentados na preservação e difusão da cultura popular e que combinados com a alfabetização prepara-se o povo para a participação política e cita os principais movimentos desse gênero os Centros Populares de Cultura, os Movimentos de Cultura Popular e também o MEB. É um dos momentos melhores do livro, pela riqueza de detalhes e pela precisa escolha dos principais fatos que direcionaram o Brasil, tanto para o período de exceção quanto pelo afloramento e consolidação dos direitos democráticos e nacionais que não aceitam as regras impostas, mas que luta pela retomada do poder pelo povo. Fruto dos trabalhos educativos realizados pelos intelectuais, igreja, sindicatos.
O período de exceção é caracterizado por uma nova fase na Educação de Adultos devido ao regime militar, os programas de alfabetização promovidos a partir dos anos 60 eram vistos como um perigo e muitos são eliminados. Em 1966, devido às pressões internas e externas retoma com iniciativas que representavam uma mistura de “entusiasmo” e “realismo” em educação.
A Cruzada ABC que manifestava o seu “entusiasmo pela educação” através do seu preconceito contra o analfabeto e na sua estratégia que pretendia a “extinção do analfabetismo entre adultos e a integração do homem recuperado na sociedade”. Elas sobreviveram até 1970. Surge a Fundação Mobral que se diz conscientizador, mas dentro dos limites previamente estabelecidos pela ordem vigente.
Nas conclusões, registra mais uma vez, que a mobilização brasileira em favor da educação do povo, ao longo de nossa história está vinculada às tentativas de consolidação ou de recomposição do poder político e das estruturas sócio-econômicas.
A autora se posiciona no que se refere especialmente a educação de adultos acredita que ainda seja organizada em função dos objetivos políticos imediatos.
É uma leitura interessante, para leigos e interessados na Educação de Jovens e Adultos, pois coloca a parte toda a historia, desvelando assim todo o romantismo que em alguns ainda persiste. Não toma em nenhum momento, a nosso ver, posicionamento de indignação. Limita-se a narrar os fatos de forma competente crítica, mas tímida, a realidade do acontecimento educacional. Oferece um embasamento histórico extremamente importante sobre a Educação Popular e a Educação de Adultos, abordando os fatos de forma desapaixonada, vinculados aos aspectos políticos, sociais e econômicas do período analisado. A autora apresenta a categoria “realismo em educação” o que provoca o leitor, mas fica a dever, pois trata de forma aligeirada sobre o tema.


Marise Helena de Araújo – aluna especial do curso de mestrado da Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Educação Programa de Pós-Graduação em Educação - Prática Pedagógica na Educação de Jovens e Adultos.

Profº. João Francisco de Souza

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